23.12.09

Distância I

"É muito interessante a maneira na qual as pessoas dizem "Bom dia". Não há duas pessoas que o façam da mesma maneira. O que é dizer "Bom dia" a alguém em termos spinozistas? Dois corpos se aproximam um do outro... Oh! Como vão se receber? Como vão atenuar o choque? Há então pessoas que dizem "Bom dia" a distância. É o "Bom dia" esquizo. O "Bom dia" esquizofrênico diz: "Não cruze este limite". Mas além desse limite, as relações não se compõem mais, vão se decompor. São muito, muito, muito diversas todas estas histórias. Estão, ao contrário, os... Como dizer-lo?... os tocadores. O abraço, o "Bom dia" com abraço. Quem pode ser? Os maníacos: "Ah, existe... Ah, está bem. Ou não". Seria o "Bom dia" histérico. O "Bom dia" histérico é a pura presença. Jamais estará presente o bastante. "Sinta como estou presente. Vê? Estou aqui. Me viu? Estou aqui. Sim, me viu! É verdade! Me viu? Pois sou eu! E é você!" Aqui está, esse é o "Bom dia" histérico. Escolham então vocês mesmos. Não há mais que isso, não há mais que este problema de distância entre os corpos. Há problemas de apresentação de facetas. Recordo um senhor que me fascinava quando me dizia "Bom dia". Muito curioso. Pegava sua mão sobre sua cadeira, a mão saía da cadeira, girava sobre ela... Tinha que ir buscar a mão sobre a cadeira. E as pessoas que têm dois dedos? Isso existe, é bem sabido".


GILLES DELEUZE - Aula sobre Spinoza - 13 de janeiro de 1981, O critério ético do mau e do bom. Discussão sobre o simbolismo.

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